BRAGA ( Joao Paulo Mesquita /MORRAZO-tribuna).- O público escolar é o primeiro a merecer as atenções do Theatro Circo, em Braga, na abertura da temporada 2009, o que acontece através da apresentação, em registo dramático, de algumas das obras de maior destaque na literatura portuguesa, designadamente “Memorial do Convento” (6, 9h30, 14h00 e 16h30), “Frei Luís de Sousa” (7, 11h00, 14h30 e 16h30) e “Felizmente há Luar!” (8, 11h00, 14h30 e 16h30), levadas à cena pela companhia “Casa dos Afectos”.
Adaptada a partir da obra de José Saramago, “Memorial do Convento”, na circunstância encenada por João Nuno Esteves, apresenta-se num palco nu, adornado apenas por um andaime, estrutura que serve de metáfora de elevação «de todas as obras humanas, da vida, da emancipação, de conventos, da perfídia, do amor, da utopia».
Da encenação do romance histórico do Nobel da Literatura de 1998 fazem ainda parte «os corpos, ironica e metaforicamente suspensos, os poderes metamorfoseados em fé, e a inevitável utopia nascida a partir da vontade ancestral dos homens na imitação dos pássaros».
Interpretada por Catarina Gouveia, André Albuquerque, Liliana Costa, Sérgio Narval e Nuno Fradique, a adaptação de “Frei Luís de Sousa”, de Almeida Garrett, obra cimeira da literatura dramática portuguesa, coloca os actores na posição de figuras primordiais, «assumindo-se como metáforas sociais e políticas de um Portugal sempre adiado, onde os mitos se substituem à vida, traçando-lhe o rumo».
Desenvolvida com base no princípio de manter intactas as suas linhas mestras, a apresentação dramática de “Frei Luís de Sousa” coloca em primeiro plano a perspectiva do seu actor, político empenhado e empreendedor, participante activo na implantação dos ideais liberais do século XIX e consequente opositor às ideias reaccionárias da época que, desta forma, transpõe para a obra «uma Idade Média a contas com o receio dos novos ventos do Renascimento».
Da autoria de Luís de Sttau Monteiro, “Felizmente Há Luar!” sobe ao palco da sala principal sob a forma de espectáculo teatral mantendo, contudo, as características pedagógicas fundamentais, de que se destacam o estilo de drama narrativo, o uso de técnicas de distanciação entre actores e personagens e todas as imagens simbólicas que remetem para a metáfora do Portugal da ditadura saída do Estado Novo, através da situação nacional no primeiro quartel do século XIX.
Recorrendo à máscara como representação do colectivo, a adaptação de “Felizmente Há Luar!” parte da desconstrução da metáfora em que se consubstancia para buscar pontos de contacto com a actualidade, concretamente com os meandros do poder em contraponto com a condição humana.
Fundada em 2000, a Associação de Intervenção Cultural “A Casa dos Afectos” destaca-se na orientação das suas actividades para a adaptação de obras da Literatura Portuguesa integradas nos programas pedagógicos dos Segundo e Terceiro ciclos do Ensino Básico e do Ensino Secundário.
Tendo iniciado o seu “Projecto Pedagógico Itinerante” com a representação das peças “Auto da Barca do Inferno” e “Auto da Índia”, de Gil Vicente, e com o recital “Sermão de Santo António aos Peixes”, baseado na obra do padre António Vieira, “A Casa dos Afectos”, que já se apresentou a mais de 50 000 alunos de todo o país, dedicou-se ainda a recitais de poesia baseados nas obras de Fernando Pessoa, Luís de Camões e autores como Almada Negreiros, Natália Correia, Ary dos Santos e António Gedeão, entre muitos outros.
As inscrições para as referidas sessões devem ser efectuadas no Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Braga, através do telefone 253 203 152 ou do endereço de correio electrónico cultura@cm-braga.pt.
Os ingressos têm o valor de 3 € (“Memorial do Convento) e de 2,5 € (“Frei Luís de Sousa” e “Felizmente Há Luar!”).