24 agosto 2009

Setembro no Theatro Circo, em Braga

Braga (MORRAZO-TRIBUNA). A estreia dos projectos “Soar)))-Cruzamentos Artísticos” e “Trânsfugas - Moving People Festival” – com as performances dos Micro Audio Waves/Rui Horta e um concerto de Pistolera, respectivamente –, a par do regresso do ciclo “Sala de Ensaios”, protagonizado pelos “Smix Smox Smux”, e do “Burla - Festival do Burlesco”, com o cabaret de Camille O’Sullivan, marca a abertura da nova temporada de espectáculos do Theatro Circo.

Performance multimédia, concerto encenado ou produção coreográfica são algumas das categorias que enformam “Zoetrope”, espectáculo que resulta da fusão do trabalho de Rui Horta com os Micro Audio Waves e que sobe ao palco principal a 4 de Setembro (22h00).

Primeiro grupo português distinguido com o prestigiado “Owartz Electronic Music Awards”, os Micro Audio Waves entregam-se, desta forma, a um desafio que os leva a ultrapassar a pop electrónica que lhes garantiu uma posição de destaque na música internacional, aliando-se aos elementos video e multimédia do coreógrafo Rui Horta, para dar origem a um híbrido entre música, imagem, movimento e poesia.

A abrir a primeira edição de “Trânsfugas – Moving People Festival”, a Pistolera, uma “ranchera” perigosa e livre, popular e intensamente inventiva, oriunda de algures entre o México e Nova Iorque, chega a Braga a 19 (22h00) para um concerto feito de canções melódicas, dançáveis e politicamente incorrectas porque críticas em relação ao estado das coisas.

Na voz e guitarra de Sandra Lilia Velásquez, o quarteto nava-iorquino, que surgiu em 2006 com o aclamado “Siempre Hay Salida”, distingue-se pelas letras assumidamente políticas que falam da luta dos emigrantes ou dos direitos da mulher e pela inevitável aterragem no coração do México impelida pelo acordeão de Maria Elena.


Também em contexto de festival, a abertura do Burla 2009 fica marcada, a 18 de Setembro (22h00), pela presença de Camille O’ Sullivan, também conhecida como “nova rainha do cabaret”.

Protagonista do novo filme de Rania Ajami, “Asylum Seekers”, Camille O’ Sullivan é detentora de uma voz simultaneamente bela e cavernosa, que, a par de uma postura sedutoramente burlesca, transforma a multifacetada “performer” irlandesa num «animal de palco».

Num mês em que a música se faz representar ainda pelos portugueses Luís Represas e “Smix Smox Smux” e em que as artes dramáticas se realizam no feminino, com as encenações de “Monólogos da Vagina” e de “La Passeggiata”, o Theatro Circo continua a reservar o seu Salão Nobre para a literatura, designadamente para uma Comunidade de Leitores que às quartas-feiras (9 de Setembro a 18 de Novembro, 21h30) colocar em discussão “A PoesiaContemporânea Portuguesa”.

Coordenada pelo escritor e editor Jorge Reis-Sá, a iniciativa, que «propõe a divulgação de um século de poesia portuguesa através dos seus maiores poetas», é composta por oito sessões temáticas desenvolvidas a partir de breves prelecções sobre cada um dos temas e seus poetas, de que se destacam nomes como Eugénio de Andrade, Sophia de Mello Breyner Andresen, Jorge de Sena ou Fernando Pessoa.

Produto recentemente lançado a partir da “incubadora de bandas” em que se transformou a estrutura interna de uma das bancadas do Estádio Municipal 1.º de Maio, os “Smix Smox Smux” apresentam-se no pequeno auditório do Theatro Circo a 11 de Setembro (22h00).

Eles São Os Smix Smox Smux” é o título do álbum de estreia da banda bracarense que José Figueiredo (Smix, baixista), Filipe Palas (Smox, vocalista e guitarrista) e Miguel Macieira (Smux, baterista) elevaram ao estatuto de «uma das mais inventivas do momento».

Definido pelos autores como «um grito sarcástico em relação à sociedade de consumo», o trabalho que assinala o lançamento discográfico dos “Smix Smox Smux” inclui temas como “Toques Polifónicos”, “Uísqui” ou “Maçã”, entre outros que ao longo do último ano têm levado à euforia as salas nacionais que acolheram as actuações pouco convencionais do trio bracarense.

Ainda em português, a 12 (22h00), o registo passa do “rock” para o “pop” e para o timbre inconfundível de Luís Represas, referência da música portuguesa das últimas décadas.

Com a apresentação de “Olhos Nos Olhos”, álbum já reconhecido pela crítica como «um dos mais belos de 2009», a voz dos Trovante – banda inevitavelmente associada ao percurso artístico do cantor – traz a Braga os temas que compõem este seu nono álbum a solo, integralmente gravado em Cuba.

«“Olhos nos Olhos” é um reencontro comigo, com as minhas almas gémeas, a maneira mais sincera de ser eu, a forma mais franca de me revelar», refere Luís Represas sobre o trabalho que apresenta “Sagres” como primeiro “single”.

Passando da música para a representação, em Setembro (26, 22h00) o palco principal do Theatro Circo acolhe o regresso da encenação de Isabel Medina de “Monólogos da Vagina” protagonizada por Guida Maria, São José Correiae Ana Brito e Cunha.

Escrita em 1966 por Eve Ensler, a peça, que já foi apresentada em 119 países e está traduzida em 45 idiomas, consubstancia-se na partilha de histórias contadas no feminino num registo simultaneamente comovente e divertido, revelando intimidades, vulnerabilidades, temores e vitórias próprias das mulheres.

Baseada em entrevistas realizadas pela autora a mais de duas centenas de mulheres de todo o mundo, “Monólogos da Vagina” já foi protagonizada internacionalmente por actrizes como Jane Fonda, Whoopi Goldberg, Susan Sarandon, Oprah Winfrey ou Meryl Streep.

Também interpretado por mulheres – Lea Karen Gramsdorff e Alice Capitano – de Itália chega “Passeggiata” (15 e 16, 21h30), trabalho que a Compagnia B apresenta em co-produção com a Companhia de Teatro de Braga.

Com encenação de Stefanie Tost, “Passeggiata” é interpretada por A e B, personagens que as circunstâncias da vida afastam e que mantêm uma comunicação constante através do “Messenger”, do “ICQ”, do “Facebook”. Identidades incertas.

Hoje encontram-se finalmente para uma bela viagem e escolheram para essa ocasião memorável a Sardenha, ilha onde têm um passado comum... como nos velhos tempos. Um acontecimento tão espontâneo como imaginado.

Falam muito, mas dizem pouco. Controlam, verificam. Estudam-se. Analisam-se. Encontram-se e desencontram-se.

Num texto sobre a ambiguidade da amizade, da confrontação entre as pessoas, sobre a procura da imagem própria no encontro com os outros, “Passeggiata” explora a essência contida na ideia de que “são sempre mais azuis os mares que não navegamos”.